Austeridade

Austeridade

Desgastes Privados

Love

ANEDOTAS DO FORO POPULAR
REESCRITAS COM PROPÓSITO
#002

Discutiam o tempo todo.
Desde que casaram, há mais de 11 anos, não havia dia em que ela não arranjasse maneira de implicar com alguma coisa que ele tivesse dito ou feito.
Uma noite, aproveitando o sossego da hora da novela, disse à mulher que ia sair para comprar cigarros. Nunca mais voltou.
Ou melhor, voltou, mas só depois de uns meses largos de ausência.
Abriu a porta de casa, sentou-se no sofá da sala e sacou do maço de cigarros, como se nada se tivesse passado entretanto.
Entra a mulher e começa a barafustar com ele, aos gritos, insultando-o por isto e por aquilo.
Calmamente, sem qualquer reacção, ele começa a apalpar os bolsos e diz:
– Eh, pá! Esqueci-me de comprar fósforos.

[© Reescrita: Tiago Coen]

Verdade vs Mentira

Verdade vs Mentira

Violências Domesticadas

Pussycat

ANEDOTAS DO FORO POPULAR
REESCRITAS COM PROPÓSITO
#001

Não havia como deixar prolongar aquela situação de permanente violência a que se sujeitava no espaço doméstico. Mais do que a dor física, custava-lhe aguentar a humilhação de enfrentar os olhares da vizinhança cada vez que tinha de sair à rua. Ainda assim, decidiu não apresentar queixa na polícia e consultar antes um psicólogo.
— Mas isso é muito simples de resolver — disse-lhe o médico.
— Como assim?
— Se aquilo que o preocupa são os vizinhos, cada vez que a sua mulher o agredir, basta que se ponha a gritar algo do género: “Toma! Toma! E para a próxima ainda será pior!”. Toda a gente vai associar o acto de violência à sua voz e assim achar que é você que lhe está a bater. Garanto-lhe que nunca mais será olhado como um frouxo ou um touro manso.
Gostou tanto da ideia, que logo na primeira oportunidade resolveu colocá-la em prática.
Chegou a casa propositadamente tarde e assim que a mulher lhe deu a primeira pancada, ele berrou: “Toma! Toma! Sua galdéria!”. Ao ouvir aquilo, a mulher batia-lhe cada vez mais e ele gritava mais alto ainda.
O processo continuou em escala, até que a mulher perdeu a paciência e atirou-o pela janela, do 13º andar.
Antes de chegar ao chão, ele ainda gritou:
— E agora eu vou-me embora e nunca mais te quero ver à frente!

[© Reescrita: Tiago Coen]

Máscaras e Vernizes

Máscaras e Vernizes

A Palavra Escrita

A Palavra Escrita

Vivo em grande parte do rendimento que o uso da palavra escrita me proporciona, mas confesso que sempre me senti completamente arredado de todas as lógicas que estão associadas aos meios literários e fora de todos os processos editoriais puramente mercantilistas da indústria do livro.

Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar.
Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso – a palavra foi feita para dizer.

[Graciliano Ramos (1892-1953), romancista, cronista, contista, jornalista brasileiro, numa entrevista concedida em 1948]

Imprefeito

Ninguém é perfeito

FEIRA DAS VERDADES #001

Marcelo Rebelo de Sousa

[A propósito do último congresso do PSD, realizado em Fevereiro]

MARCELO REBELO DE SOUSA: 

o único astro que brilha, não só na sua galáxia de origem mas no total do cosmos político. O resto é quase tudo poeira interestelar (leia-se arraia-miúda).

Tristemente para as órbitas do Norte, o mais negro do apagado firmamento social-democrata continua a ser riscado pelos satélites do costume: os parolitos Luis Filipe Menezes, Aguiar-Branco e Marco António.

[Quanto ao aerólito Relvas, sem órbita regular, não passa de mais um calhau à deriva no espaço.]

Não, No, Non, Nein

No

Há um sem-número de motivos para anuirmos a algo ou dizermos sim a alguém (por simpatia, por moda, por compromisso, por contrato, por submissão, por aspiração de pertença, por medo…), quase todos eles definindo apenas o nosso ser social.
Já quando dizemos não, é o nosso ser individual, o nosso verdadeiro carácter, que se afirma e manifesta.

Primavera Sound – Porto: Um Festival de Excepção?

Primavera Sound 2013

É verdade que na maioria dos festivais de Verão se costuma celebrar tudo menos a música, no que ela tem de mais autêntico enquanto expressão artística.
Não vou tão longe quanto o meu querido Edwyn Collins (Orange Juice), que proclama em “The Campaign For Real Rock”, o tema que abre o celebrado álbum Gorgeous George:
Yes here they come, both old and young
A contact low or high
The gathering of the tribes descending
Vultures from a caustic sky
The rotting carcase of July
And ugly sun hung out to dry
Your gorgeous hippy dreams are dying
Your frazzled brains are putrifying
Repackaged, sold and sanitized
The devil’s music exorcised
You live, you die, you lie, you lie, you die
Perpetuate the lie
Just to perpetuate the lie
Yes yes yes it’s the summer festival
The truly detestable
Summer Festival
.
O cenário nem sempre é assim tão deprimente, muito embora possa assegurar, pelas minhas inúmeras presenças neste tipo de evento, que poucas vezes a experiência vale totalmente a pena, a menos que se seja ainda adolescente inconsciente, dependente consciente ou estreante deslumbrado.
Desde as actuações a despachar até à uniformização da componente cénica, passando pela praga das longas filas para encher o estômago ou esvaziar a bexiga, tudo sob a dança do pó no ar quente de torrar ou sobre a lama no chão escorregadio de tombar, os festivais de Verão pouco variam entre si, cá dentro ou lá fora.
É verdade que nem todos os concertos são sofríveis, e aconteceu, de forma paradoxal, que os melhores momentos a que já assisti em espectáculos ao vivo tiveram lugar precisamente neste tipo de recinto. O concerto de Neil Young em Vilar de Mouros, em 2001, e o dos Arcade Fire em Paredes de Coura, em 2005, são disso exemplo, entre poucos outros.

O Festival de Paredes de Coura, aproveitando o enquadramento natural favorável, sempre se esforçou por afirmar-se com um registo diferente, mas não conseguiu ainda aquilo que foi patente na edição inaugural do Primavera Sound – Porto, no ano passado, onde tudo pareceu funcionar na perfeição. Pela primeira vez em toda a minha vida, senti um verdadeiro regozijo ao estar num espaço desta natureza. A impressão não foi seguramente só minha, pois o deleite era claramente visível na face de todos os participantes. Tanto, que os próprios artistas fizeram questão de o dizer, com microfone aberto, para que o resto do mundo pudesse ouvir. Não admira, esse sentimento, pois não é todos os dias que se actua num espaço verdejante tão aprazível como o Parque da Cidade do Porto, com o mar ali mesmo ao lado, perante uma plateia que parecia ter vindo dos quatro cantos do mundo, culta e sociável como eu nunca vira.

Este fim-de-semana tem lugar a segunda edição deste festival. Não sei se a magia que ocorreu no ano passado se irá repetir, mas que é imperativo lá ir averiguar, disso não tenho qualquer dúvida.

Todo o programa aqui:
www.optimusprimaverasound.com

Primavera Sound 2013

Em 2012 foi assim:
Primavera Sound – Porto: Resumo Canal 180

LIBERDADETICA

Etica-Liberdade

O sentido da ética e o da liberdade fazem parte da essência humana — não se ganham nem se perdem.
Já a moral e o livre-arbítrio dependem da sociedade em que se está inserido, e deverão observar sempre àqueles primeiro.

[Não falta quem confunda tudo, nem quem inverta os factores!…]

BE KIND, BE KIND; BE KIND.

A propósito de hoje, 13 de Novembro, se assinalar o World Kindness Day (Dia Mundial da Bondade), lembrei-me de um plano do filme “Shut Up and Play the Hits” — uma espécie de “The Last Waltz” deste milénio — que regista o último concerto dos absolutamente geniais LCD Soundsystem, no Madison Square Garden, NY.
A cena tem lugar no escritório do manager da banda, onde numa das paredes está exposto um poster em tipografia simples, mas a berrar-nos uma mensagem que nunca mais nos abandona o sub-consciente:
NOTE TO SELF: BE KIND, BE KIND; BE KIND.
De todas as imagens do filme — e o filme é brilhante e arrebatador, com muitos momentos de grande emocionalidade —, esta foi a que mais retive e mantenho presente, até porque é também a imagem que mais guardo do carácter de James Murphy.
Ser gentil, bondoso e generoso é algo que cada um de nós deve levar a sério, sempre, por muito que nos custe, em todos os momentos da nossa vida, com quem quer que seja!

[Print: “Note to Self: Be Kind, Be Kind; Be Kind.”, by Rob Reynolds]

New Chance to Change?

Na sequência da reeleição de Barack Obama para presidente dos E.U.A., vou lendo e ouvindo, por todo o lado, que “se o Obama não tivesse ganhado, deixava de acreditar nas pessoas e neste mundo, de vez”.
Entendo o sentimento geral, mas não pode deixar de levar-me a pensar que isso revela, antes de mais e de forma alarmante, que está tudo preso por pontas!…
Se assim for, como parece evidente sê-lo, porque tarda tanto o início da operação de mudança, de cada um de nós?
É que 4 anos já se foram!…

Felicidade a Tingir…

Um Pouco Cedo…

Desde há já algum tempo que as duas únicas pessoas que leio e ouço de forma incondicional no nosso país — pela inteligência, pela argúcia, pela ironia, pela simplicidade, pela coragem, pela simpatia — são o Ricardo Araújo Pereira e o Manuel António Pina.
Este último deixou-nos hoje.
São dele os últimos livros que eu li aos meus filhos e é dele a última crónica que eu li num jornal.
Poder-se-ia dizer que ficamos mais pobres. Neste caso, não. A herança que o Manuel António Pina nos deixou hoje é incomensurável. Sejamos dignos dela, mais que não seja para que não passe a ser ele, em definitivo, o último.

Póvoa Seca?


A propósito da manifestação de hoje, 15 de Setembro, no Porto, pelo que conheço da cidade, temo muito que uma grande parte dos manifestantes acabe a beber copos na zona das Galerias Paris e a voltar a falar de “gajas” e “gajos” até de madrugada, enquanto que a outra parte vai voltar a casa tão cedo quanto possível, a tempo de ainda ver o início dos concursos e das novelas com que se alienam no resto do tempo em que não há manifestações ditas revolucionárias!

SE PARADOS

Porque a união nos faz fortes e o marasmo nos torna fracos…

Um Livro, Uma Causa… de Vida

A minha primeira acção na Mediterrakeo é uma boa acção. Trata-se da campanha de relançamento do livro “Percursos de Vida”, de José António Salcedo, que é um bom amigo, um cientista e empresário português de reconhecido mérito, nacional e internacional, mas acima de tudo uma pessoa com uma generosidade sem limites.

Este livro já devia estar esgotado faz agora 5 anos, só que há coisas neste país que nem o diabo entende! Particularmente na área da cultura — onde se esperaria algum cuidado no tratamento das obras publicadas — os comportamentos dos seus diversos agentes deixam muito a desejar. A edição de “Percursos de Vida” é disso um bom (mau) exemplo.

Conheci o António José Salcedo, há cerca de um ano, por acaso, no facebook — sinal dos tempos que vivemos.
Cedo me despertou nele a visão lúcida do real, o particular bom senso, a apurada sensibilidade artística, a participação activa na sociedade civil e o cuidado, diria académico, na comunicação com os outros. Tudo avaliações que evidenciam estar-se perante uma pessoa muito culta e de mente aberta, para além de extremamente humana e generosa. Daquelas que eu aprecio. Hoje, por isso tudo, somos amigos para além do espaço virtual.
Sem que ele tivesse feito qualquer alarde do facto, descobri que havia publicado um livro com fotografias e textos próprios, uns tempos antes. Vindo de quem vinha, fiquei curioso e procurei o livro. Nenhuma das minhas expectativas ficou gorada.
José António Salcedo, em tudo na vida, prima pela excelência e aqui não fez por menos: decidiu avançar para uma edição de luxo, assumindo todos os custos da obra. Recorreu ao saber dos artistas plásticos Susana Landolt Alves e Armando Alves para o design e as artes finais, à qualidade da Norprint para a impressão, e entregou a edição à Campo das Letras. Resultou daí um belíssimo álbum, tanto a nível estético como de conteúdo — fotografias e textos —, a fazer inveja à maioria das edições que se fazem em Portugal.
Aconteceu que, logo a seguir, a Campo das Letras entrou em colapso financeiro e a edição ficou anos ao abandono, fechada num armazém. Recentemente, o autor conseguiu recuperar os livros (cerca de 900 ex.) com a intenção de os colocar finalmente no mercado, uma vez que sempre deteve os direitos sobre a obra.
Confirmando ser a pessoa materialmente desinteressada que eu pressentira, decidiu vendê-los a um preço reduzido, doando todo o montante que vier a receber a uma instituição social de âmbito nacional, a A.A.P.C. (Associação Apoio a Pessoas com Cancro), com sede na Senhora da Hora, Matosinhos, precisamente a freguesia onde nasceu.

Num almoço que tivemos, entretanto, o assunto veio à baila e eu propus-lhe ajudá-lo na promoção deste relançamento. Conversei com o José Carlos Soares — na altura a transformar a Mediterrakeo num colectivo — e juntos avançámos para a empreitada.
Começámos por criar uma página na web com toda a informação sobre o livro e agora estamos a dar início à distribuição da obra.
O nosso intuito é criar um movimento à volta deste relançamento, utilizando todos os meios e recursos de que dispomos (newsletters, websites, blogs, redes sociais, etc.) e levar as pessoas a conhecerem a obra e a causa associada.
Decidimos fazê-lo por venda directa, com envio à cobrança — obtendo assim um maior montante para a A.A.P.C. —, mas se houver alguma entidade interessada em comercializá-lo, poderão encomendá-lo também.

Para saberem tudo sobre o livro e concretizarem a encomenda, visitem o website que construímos:
percursosdevida.wordpress.com






Causas e Cursos, Milagres e Percursos

«A vida é um milagre. Possivelmente, será até o único milagre.»

José António Salcedo, in “Percursos de Vida”, E agora… como vai ser o futuro?

Buracos e Furos, Passados e Futuros

Podemos, em qualquer momento da nossa vida, pôr cobro a tudo o que somos e dar início a uma nova vida, sem as marcas de um passado meramente circunstancial.

Mundial 2010 – Kick In

Por muito desapaixonados ou imparciais que sejamos, todos nós temos os nossos amores e ódios de estimação, em todas as áreas da vida.
Eu tenho os meus, e se há coisa que adoro fazer com eles é acicatá-los o mais possível, sempre que uma oportunidade se apresenta.
No que toca ao futebol, e em especial a este Mundial na África do Sul, as minhas preferências vão direitinhas para a Espanha e a Argentina (para além de Portugal, como é óbvio). Escusam de me perguntar sobre as razões por detrás desta escolha, que eu não tenho qualquer resposta racionalmente válida para as sustentar. Poderia dissertar sobre os laços ancestrais que nos unem, sobre as culturas que ainda mantemos em comum, sobre a linha de fronteira que nos junta e não separa, ou ainda sobre o meu não-praticado inefável iberismo, mas não. Gosto de Espanha e gosto da Argentina, ponto final. Gosto dos países, dos povos e das culturas, mas sobretudo gosto do estilo de futebol que praticam.
Infelizmente, não acredito que nenhum deles chegue à final!… (Sobre a selecção portuguesa, já escrevi no post anterior).
Parece-me inevitável que os finalistas sejam dois dos três do costume: o Brasil e a Alemanha. (Aí, como não poderia deixar de ser, a minha preferência cai para o Brasil, mas a vitória não deve escapar aos germânicos.)
Logo veremos quem vence este Mundial. Até lá, numa altura em que se inicia a última série de jogos de cada grupo, aqui deixo as minhas previsões para o que irá acontecer até à final.
(As análises aos jogos e aos resultados das previsões serão feitas diariamente na secção de Comentários.)

Oitavos-de-Final:
Uruguai (A1) – Coreia do Sul (B2)
EUA (C1) – Sérvia (D2) [Gana]
Alemanha (D1) – Inglaterra (C2)
Argentina (B1) – México (A2)
Holanda (E1) – Itália (F2) [Eslováquia]
Brasil (G1) – Suíça (H2) [Chile]
Paraguai (F1) – Japão (E2)
Espanha (H1) – Portugal (G2)

Quartos-de-Final:
Holanda – Brasil
Uruguai – Sérvia [Gana]
Argentina – Alemanha
Paraguai – Espanha

Meias-Finais:
Uruguai – Brasil
Alemanha – Espanha

Final:
Brasil – Alemanha

—————
Nota posterior #1 (depois do fim da fase de grupos):
Nada mal! Em 16 equipas possíveis, acertei em 13! E exactamente em todas as classificações dos 8 grupos! Por isso, o quadro de previsões mantém toda a sua validade. Até porque as equipas que não previ passarem (Gana, Chile e Eslováquia), deverão perder os jogos já a seguir (hehehe!).
Será que entendo assim tanto de bola, terei algum poder divinatório que desconheça, ou não será só porque as coisas, todas as coisas, nesta vida, não são assim tão misteriosas, nem imprevisíveis, como imaginamos serem?…
De salientar, a lamentável surpreendente eliminação de quase todas as selecções do continente africano na fase de grupos — das 6, sobrou apenas o Gana.
Também a destacar, a baixa percentagem de selecções da Europa que passaram aos oitavos-de-final. No Mundial de 2006, tinham sido 10! Em 2002: 9. Em 1998: 10. Em 1994: 10. Em 1990, 10. E em 1986, 10. Isto é, desde que no México 86 se aboliu a segunda série de grupos, são apurados 10 colectivos europeus entre os 16 melhores, mas na África do Sul essa média caiu em 40%.
Finalmente, registar a qualificação de um anormal elevado número de países ibero-americanos (8 em 16). Será isto um sinal de alerta para a necessidade de revitalização do conceito glorioso do período dos Descobrimentos, quando Portugal e a Espanha viraram as costas à Europa e dirigiram todas as suas atenções para o enorme potencial que o imenso Atlântico encerrava?

Nota posterior #2 (depois dos oitavos-de-final):
A assertividade mantém-se! Das 8 selecções que passaram aos quartos-de-final, acertei em 7. E, independentemente do erro prévio do Gana, acertei exactamente nas 8 equipas que ficaram pelo caminho.
Relembro que a totalidade destas previsões foram realizadas a meio da fase de grupos, depois de ter assistido a um ou dois jogos de cada equipa. Curiosamente, se refizesse agora as previsões para os quartos, não alteraria nada, muito embora gostasse de ver o Gana chegar às meias-finais.
O que se salientou na nota anterior, mantém-se, e, a situação das selecções ibero-americanas, ainda aumentou. Das 8 últimas, 5 falam espanhol ou português. Pena que Portugal já não esteja nesse grupo!…

Horizontes e Barreiras, Visões e Cegueiras

Visionário é aquele que consegue ver bem longe, sem perder de vista o que está à frente dos olhos.

Mundial 2010 – Kick Off

O destino de Portugal parece estar já todo claramente escrito na sebenta dos mais iluminados que seguem atentamente o Mundial 2010.
Apesar de acreditar muito no mérito e na competência do professor Carlos Queiroz (mil léguas acima da enorme mentira que era Filipe “Vendedor-de-Bandeiras” Scolari), não me parece, também a mim, que a selecção portuguesa tenha muitas hipóteses de alcançar um resultado memorável neste campeonato. Não deverá ter grandes complicações em ultrapassar as tormentas da fase de grupos, mas, por um capricho do sorteio, não tenho a boa esperança de que passe o primeiro jogo a eliminar.
Tendo em consideração que só por uma enorme conjugação de factores extraordinários não ficaremos em segundo lugar do grupo G, teremos de jogar logo a seguir contra a vizinha Espanha (provável primeira classificada do grupo H). E ainda que contando, desta vez, com Cristiano Ronaldo, Pepe, Duda, Miguel, Tiago e Simão Sabrosa a jogar do nosso lado e não do deles, não teremos — como a PT também não terá contra a Telefónica — argumentos suficientes para bater a sólida fúria hispânica.
Não que os nossos jogadores sejam muito inferiores em termos de técnica aos nossos rivais. Não são, e alguns deles até serão melhores. A diferença está no carácter do ser português. Basta seguir o nosso futebol minimamente de perto para perceber a debilidade da estrutura mental de quase todos eles. Não passam de meninos mimados, sem qualquer estofo de lutadores ou espírito de campeões. São fracos do ponto de vista cultural e a única coisa que lhes vai na cabeça é a preocupação de dar nas vistas, tal como o faz todo o novo-rico de qualquer área de actividade. Foi assim há 500 anos e é assim ainda agora.
Não admira, por isso, que a maioria do nosso povo se reveja tão nitidamente nas figuras de Nani, Miguel Veloso e Cristiano Ronaldo e não nas de Mourinho, José Peseiro ou Carlos Queiroz.

Estrelas e Meteoritos, Vuvuzelas e Apitos

Quem não tem o brilho do Sol, devia, pelo menos, brilhar como a Lua.

R.I.P. Alex Chilton (1950-2010)

Alex Chilton, um dos meus músicos favoritos, morreu no passado dia 17 de Março, em New Orleans, vítima de ataque cardíaco, deixando para trás uma carreira marcada pela genialidade criativa e por uma atitude sempre arredada dos interesses mais comerciais da indústria musical.
Conhecido sobretudo como líder e vocalista dos Big Star, Chilton é um daqueles artistas que, apesar de ter vivido grande parte da sua vida num quase absoluto anonimato para o grande público, granjeou subterraneamente um culto que ultrapassa em larga escala muitas das estrelas rock mais conhecidas.
A sua carreira musical, algo errante, teve três fases bem distintas. Uma primeira, no final dos anos 60, em Memphis, como vocalista dos Box Tops, um grupo semi-fake de soul e rhythm’n’blues. Apesar de serem todos brancos, ou por causa disso, conseguiram atingir em 1967 o nº1 do top americano com a canção “The Letter”. Mais tarde, no início dos anos 70, ainda em Memphis, mas já no grupo Big Star – talvez a banda americana de maior culto depois dos Velvet Underground – editou três excelentes álbuns: #1 Record (1972), Radio City (1974), ambos fortemente influenciados pelo som dos Beatles e dos Byrds, e Third/Sister Lovers, o mais brilhante e personalizado trabalho de Alex Chilton (editado só em 1978, apesar de concluído em 1975). Enquanto a maioria dos grupos da época andava entretido com teclados triplos, a entreter-nos com tretas de progressões e sinfonismos naquele que pretendiam ser o rock do futuro, os Big Star andavam mais empenhados em inventar de forma simples o som que as melhores bandas de hoje realmente fazem.
Depois da separação dos Big Star, Chilton mudou-se para Nova Iorque e aí deu início a uma carreira a solo que teve tanto de irregular quanto de seminal. Desta fase, enquanto músico, merece atenção especial a edição do álbum Like Flies on Sherbert (1979) e, como produtor, o trabalho realizado nos dois primeiros discos dos Cramps e em vários dos Panther Burns de Tav Falco.
Para além destas duas, outras bandas como os R.E.M., Teenage Fanclub, Beck, Replacements, dB’s, Primal Scream, Jon Spencer Blues Explosion, Posies ou Wilco reconhecem abertamente a influência do trabalho do compositor, multi-instrumentista e produtor e prestam-lhe hoje o tributo devido.

Playlist (YouTube) de alguns dos melhores temas de Alex Chilton, para escutar sempre:
1: September Gurls
2: Thank You Friends
3: Ballad of El Goodo
4: Thirteen
5: Kangaroo
6: Holocaust
7: Take It Off

Para um conhecimento mais aprofundado da importância de Alex Chilton, recomendo a leitura de:
The Life and Music of Alex Chilton
[artigo de Joe Tangari, publicado no site Pitchfork, em 22/Março/2010]

Génios e Motores, Vénias e Labores

O mundo só espera por aqueles que o fazem girar.

Jesualdo: O Elo Mais Fraco!

Nunca gostei de Jesualdo Ferreira enquanto treinador. Não gostava dele nas equipas onde esteve no passado e muito menos gosto dele no F.C. Porto.
Entendo que é um treinador sobre-avaliado, pouco questionado, e que o trabalho e os resultados que ele conseguiu no Dragão teriam sido obtidos de igual forma por qualquer outro treinador mediano.
Nunca criou um modelo de jogo que se sentisse ser trabalho dele, não sistematiza situações tipo, não tira verdadeiro partido do potencial dos jogadores, não sabe ler o evoluir das partidas e tarda em tomar decisões.
O F.C. Porto só conseguiu os resultados dos últimos anos graças à estrutura da organização do clube e ao valor individual dos seus jogadores: Quaresma, Lucho, Lisandro, Paulo Assunção, Bosingwa, Bruno Alves, Hulk, Falcão, e agora Varela e Ruben Micael.
Uma equipa como o F.C. Porto não pode ter no seu comando alguém tão destituído de génio quanto de coragem como é o caso do senhor Jesualdo. Pena não se ter seguido à risca a filosofia de nunca se manter um treinador por mais de 3 anos na liderança da equipa!…
O problema já era perceptível nas épocas anteriores — acontece que este ano a situação é agravada pelo facto evidente de a equipa sofrer de um enorme déficit de inteligência! Não há ninguém a pensar bem na equipa. A começar nos jogadores e a acabar no treinador! Quem tinha inteligência já saiu. Ficou a vontade, algum jeito de pés, mas mais nada.
É por isso que esta época, para além da Taça de Portugal, não haverá títulos no Dragão. A eliminação hoje em Londres é mais que esperada e na final da Taça da Liga com o Benfica só se espera que não haja goleada! Do campeonato, nem vale a pena falar!…
Professor (não sei bem de quê!): a Grécia espera por si!

Apagamento

Não tenho por hábito apagar pessoas da minha vida, mas também não costumo ter alguém apagado nela!

Fumo Sem Fogo

Sempre achei o Miguel Sousa Tavares uma figura interessante e partilho mesmo grande parte das posições e gostos dele. Penso que é um homem invulgarmente inteligente, culto e corajoso. E é isso que me leva hoje a escrever sobre ele, caso contrário não teria o denodo de o fazer.
Nunca embarquei nas falanges que o adulavam quando se encontrava na crista da onda – nem tive sequer interesse particular em ler algum dos seus romances. Isso não me fez, porém, diminuir em nada o respeito que sempre nutri por ele enquanto pessoa e jornalista.
E é por isso, também, que não me vou agora atirar ao homem, ao murro e ao pontapé, só porque se pôs a jeito e se encontra caído e à mercê.
Ninguém consegue evitar totalmente um momento aziago, nem deixar-se cair em tentação uma vez que seja na vida. Todos temos desafios com resultados menos felizes e o Miguel Sousa Tavares teve com o programa Sinais de Fogo o seu também.
Desconheço a quota de responsabilidade que tem na concepção e produção do programa, mas imagino que não seja pouca. Por isso, é a ele que não posso deixar de imputar a culpa de tão decepcionante resultado.
Está à vista de todos – e o consenso nos múltiplos comentários na web tornam isso muito evidente – que Sinais de Fogo é um retumbante fracasso. Um flop em toda a linha.
O formato do programa é simplório e demasiado visto, os temas bombasticamente anunciados são abordados ao de leve, as entrevistas, para além de mal preparadas, são abertamente tendenciosas, e, pior do que tudo, o Miguel Sousa Tavares não tem jeito nenhum para desempenhar o papel que um programa como estes exige!
Tão mau, que duvido aguente muito mais tempo no ar – a menos que a teimosia tão característica em MST o leve a vestir a pele de D. Quixote e continue a ver gigantes onde todos só vêm moinhos.

Peneiras

Só tapa o sol com uma peneira quem se deixa peneirar.

O Novo Logótipo da SONAE

É impressão só minha ou o novo logótipo da SONAE é mesmo um tremendo barrete?
Aquilo não lembra nem a um caloiro da ESAD!
Eu não sei ao certo quanto é que a coisa custou ao senhor engenheiro, mas a confirmar-se o valor que me chegou aos ouvidos, este é, para já, o barrete do milénio!!!
Conhecem o conto do “Rei Vai Nu”, não conhecem? Pois é exactamente o que aqui se passa: o Rei vaidoso tem por nome Belmiro de Azevedo e o alfaite trapaceiro é um senhor chamado Carlos Coelho!

Embuste

Não há máscara que não caia, nem verniz que não quebre!

As Entrevistas da Paris Review

Foi recentemente editado um livro que está a preencher deliciosamente todo o meu tempo livre.
Trata-se de uma colecção de 10 entrevistas feitas a outros tantos grandes escritores do séc. XX, realizadas nas décadas de 50 e 60 pela equipa da Paris Review.
Ao longo dos seus 56 anos de existência (o primeiro número tem data da Primavera de 1953), a revolucionária revista norte-americana tornou-se num marco para todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, estejam ligados ao meio literário. A grande atracção e maior interesse de cada número residia quase sempre na entrevista feita a um escritor de renome internacional, ao ponto de estes textos terem sido considerados por muito boa gente como trabalhos literários de recorte clássico, por si só.
Completamente absorventes e muitas vezes divertidas, estas entrevistas, feitas por quem está por dentro do universo da arte literária, distinguem-se pelo facto de as perguntas serem muito pouco habituais – incidindo mais no “Como” e menos no “Porquê” usual.
A própria Paris Review já havia lançado no mercado norte-americano, através da editora Picador, uma colecção em 4 volumes com parte das conversas realizadas, mas o interesse particular desta edição é ela ter um filtro e um selo nacionais.
O prestigiado jornalista Carlos Vaz Marques levou a si a tarefa de seleccionar e traduzir os textos originais e ainda prefaciar o livro. A edição, extremamente cuidada, é da responsabilidade da Tinta-da-China e o bom-gosto da capa e das ilustrações devem-se a Vera Tavares.
Eu ainda só li as entrevistas feitas a E.M. Forster, Graham Greene e William Faulkner, mas já me bastam para considerar o livro como um dos lançamentos do ano. Os outros 7 autores entrevistados são Truman Capote, Jorge Luis Borges, Ernest Hemingway, Lawrence Durrell, Boris Pasternak, Saul Bellow e Jack Kerouac.
Absolutamente a não perder!

Desvendamento

No perfil que construímos, no auto-retrato que fazemos, revelamos, sem dar conta, muito mais do que pretendemos e desejamos.

Sócrates e Portas ou A Hiena e O Abutre

Desenganem-se os que ingenuamente pensam que o namoro de José Sócrates e Paulo Portas é fruto de circunstâncias criadas por acaso.
Há cerca de meio ano, quando ainda não se preparavam as campanhas para a tripla série de eleições, avancei com a convicção de que havia uma aliança estratégica bem urdida entre José Sócrates e Paulo Portas com o fim primeiro de aniquilarem o PPD/PSD e de seguida repartirem a carcaça.
Comprovados mestres nas práticas da necrofagia, ambos viam na frágil condição do adversário uma oportunidade única para usurparem o espaço que em condições normais lhes estaria sempre vedado. A combinação de esforços parecia infalível e os proveitos já eram dados como garantidos. O PS asseguraria a manutenção do poder por longos anos e o CDS poderia assumir-se finalmente como o grande partido da ala conservadora.
O primeiro sufrágio, porém, gelou-lhes o sangue, por uma vez quente, e com isso os movimentos. O segundo acto eleitoral veio confundir mais a estratégia, pois se, à direita, Portas cumpria a sua parte, e se encontrava pronto, de unhas afiadas, para desferir o golpe tão desejado, já Sócrates, com o crescimento inesperado do Bloco de Esquerda, via parcialmente abaladas as suas hipóteses de hegemonia ao ter que dividir a atenção entre um assalto ao centro-direita e a cobertura na ala esquerda.
Ultrapassada esta ameaça depois do desaire do Bloco no terceiro capítulo eleitoral, e confirmado o definhamento do PPD/PSD, a estratégia inicial volta a ganhar forma e só não vê quem não quer o que se adivinha no futuro próximo.
Será coincidência inocente serem precisamente estes os dois únicos líderes partidários a terem sobre eles suspeições de abuso de poder e favorecimento político enquanto detentores de cargos de governação?

António Sérgio (1950-2009)

Dou-me muito bem com a Morte. Sinto só a dor que causa quando a sombra que a segue apaga alguém que me ilumina.
António Sérgio, o último dos lobos resistentes, foi durante muito tempo o meu farol da margem.
Se agora não ficamos às escuras, é porque teve, ele, outro mérito enorme: o de acender, no seu percurso, milhares de novas outras luzes!

[Notícia do Público, 02.Nov.2009]
[Texto de Miguel Esteves Cardoso, 17.Set.2007]

Visão

Visionário é aquele que consegue ver bem longe, sem perder de vista o que está à frente dos olhos.

As “Gajas” Dominam A Net!

Numa das minhas recentes deambulações pela web, deparei com um site muito interessante de um designer inglês de nome David McCandless, cuja especialidade é visualizar informação, criando gráficos a partir de dados estatísticos fornecidos por entidades oficiais.
Os gráficos, todos esteticamente muito atraentes, abordam temas tão diversos como o grau de segurança comparado da vacina para o HPV, as propriedades cruzadas das diferentes drogas do mercado, ou o número de tropas por país presentes no Afeganistão. Mas aquele que me chamou de imediato a atenção foi um, intitulado “Chicks Rule”, que representa a frequência de visitas, distribuída por sexo, em cada um dos sites das redes sociais mais populares da Web 2.0.

Eu confesso que pasmei ao olhar para o quadro! Tinha a percepção, sim, de que havia algumas redes que eram frequentadas maioritariamente por mulheres – não imaginei é que fossem tantas e com uma presença tão avassaladora.
Sabido que estes sites são praticamente todos criados por homens, será que na sua génese estará a intenção maquiavélica de ocupar as mulheres com este género de virtualidade, mantendo-as em casa, enquanto os homens andam tranquilamente na rua a gozar a realidade?
Sem me querer alargar em demasia na análise destes dados, tenho, todavia, a ideia de que, apesar de serem mais as mulheres a frequentar estes sites, os principais assuntos aí abordados serem ainda maioritariamente masculinos ou relacionados com homens. Também me parece evidente que nesses novos matriarcados as principais personalidades e opinion makers aí seguidos – aqueles que têm mais comentários ou cujos perfis têm mais pessoas adicionadas – são, na sua esmagadora maioria, do sexo masculino. Pelo que… não sei se as chicks dominam tanto quanto isso!
Girls, venham daí esses comentários!
Seria interessante tentar perceber-se duas coisas, em particular:
1) A que se poderá dever esta maior presença feminina nas redes sociais?
2) Essa hegemonia feminina tem uma equivalência no domínio dos assuntos dessas mesmas redes?
(o desafio é extensivo a todos os sexos, como é óbvio!)



NOTA: Para quem desconhece, o Digg é uma rede norte-americana de posts de links com novidades, na sua maioria relacionadas com gadgets, vídeos e assuntos mais trendy do universo jovem masculino.
O Bebo, popular nos países de expressão inglesa, não difere muito das outras networks sociais, ainda que tenha um especial acento na prática da revelação dos aspectos mais frívolos da vida de cada um.

[ver quadro com maior resolução]

Desorientação

Quem não sabe onde pôr os pés, dificilmente saberá onde pôr as mãos!

Autárquicas 2009

Autárquicas 2009

Se nas eleições legislativas, quem saiu claramente vitorioso foi o BE e o CDS e quem saiu derrotado foi o PS e o PSD, apenas duas semanas depois, nas autárquicas, aconteceu precisamente o inverso!
Um regresso à normalidade, portanto, tal qual como a conhecemos das experiências do passado.
Aqueles que haviam visto nos resultados de há 15 dias a consolidação de uma nova representatividade das diferentes forças partidárias no país, porque não entenderam nada do que havia ocorrido, vão ter agora que rever todas as suas conclusões.
Numa outra vertente de interesse, estas eleições revelaram que o nosso povo, ao retirar o poder a algumas figuras sinistras do cenário político (Fátima Felgueiras, Ferreira Torres, Narciso Miranda), não é tão ignorante quanto todos os indicadores indiciam. É lento, muito lento, a reagir, mas acaba sempre por lá chegar. Pena que os povos de Gondomar e de Oeiras se encontrem num nível mais retrógrado de desenvolvimento!…
Nota final para a taxa de abstenção, que persiste em aumentar. O silêncio de todas as forças partidárias sobre o assunto é bem revelador da ameaça que aí pressentem existir, isto porque é cada vez mais evidente que esta inacção popular se trata de uma forma consciente de protesto ao actual status quo político e não um mero alheamento ligeiro e irresponsável. Perante um espectro elegível tão miserável, cada vez mais pessoas deixa de alinhar na fantasia do “votar no menos mau”, pois compreenderam que fazê-lo significa, tão só, sancionar esse mesmo espectro.

Circunstanciamento

A ideia de que somos vítimas das circunstâncias é uma mera aparência.
Somos nós quem circunstancia o que somos!

As Filhas Góticas de Zapatero

Na semana passada uma notícia correu mundo, mas, curiosamente, em Portugal passou quase despercebida.
O motivo de tal buzz teve a ver com a forma “ousada” como as filhas do primeiro-ministro espanhol se apresentaram com os pais no Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque durante a recepção oficial oferecida pelo casal Obama aos chefes de estado participantes na 64ª Assembleia Geral da ONU.
Esse facto nada teria de mais, se uma das fotos que habitualmente se tiram pela ocasião não tivesse sido colocada no site oficial do Departamento de Estado americano.
A publicação da foto de imediato levantou uma onda de protestos e levou a que fosse retirada do site ao fim de algumas horas, ao mesmo tempo que era proibida a sua divulgação. Mas era tarde de mais – a imagem já havia corrido mundo e provocado as mais variadas e incompreensíveis reacções.
O casal Zapatero, ao abrigo da lei que salvaguarda a privacidade de menores, sempre proibiu qualquer divulgação pública de imagens das suas filhas (13 e 16 anos). Esse facto pode explicar, em parte, o choque vivido em Espanha por esta apresentação das crianças, desconhecidas até então, mas não justifica, de todo, o teor quase xenófobo da maioria dos comentários.
As reacções de censura só vêm evidenciar que a maioria das pessoas ainda não deu conta que o mundo e os seus modelos de vida mudaram e que esta mudança, no caso oportunamente apadrinhada pelos Obama, veio para ficar.
Que mal vem ao mundo que uma pessoa se apresente vestida desta ou daquela maneira, neste ou naquele lugar, sobretudo quando se trata de uma criança, seja ela filha do cozinheiro da cantina, do reitor da escola ou do ministro da educação? E que diferença faz fazê-lo em estilo gótico ou beto da linha? Não são a Doc Martens e a Tommy Hilfiger apenas marcas, ambas de culto?
É, em tudo, risível esta novela!
Quem não cresceu fantasticamente assombrado pela silhueta de Batman, ou já não terá lido, deliciosamente aterrorizado, um qualquer romance de William Blake, Lord Byron, Friedrich Niezsche ou Edgar Allan Poe? E se tivermos em conta que um dos realizadores mais bem sucedidos e cultivados da actualidade é um gótico convicto – falamos de Tim Burton –, e de que o seu actor fetiche, Johnny Depp, não renega essas mesmas convicções – isto para mencionar só duas ilustres personas dos nossos dias –, não deixa de ser irónica, e mesmo patética, toda esta celeuma. Ainda por cima vindo isto de onde vem – um dos locais mais visitados em todo o mundo é precisamente o Bairro Gótico, em Barcelona, e Gaudi – para muitos, o maior arquitecto espanhol de sempre – o principal revitalizador da arte gótica em Espanha.
Bem, estiveram os pais Zapatero, que lhes concederam o direito de livre afirmação e, ainda melhor, o casal Obama, que não viu nisso qualquer motivo para melindre.

[sobre a cultura gótica]
[ver foto a cores em alta resolução]

(Pre)ocupações

Os que ainda se preocupam com o supérfluo e o acessório, é porque nada têm de essencial ou substancial com que se ocupar!

Desilusões

Não podemos acusar os outros de nos terem desiludido.
A ilusão é um acto da nossa única e inteira responsabilidade!

A Águia Nacional-Fantasista

É de bradar aos céus d’Allah, toda esta euforia bacoca em torno do clube dos 6 milhões de analfabetos funcionais (aqueles cujo presidente diz que “pelo peixe morre a boca”)!
Nem no tempo do império-por-cumprir o vermelho parecia tão en-carna-do (ainda que isto de ser lampião nunca passe da flor da pele)!
Ele é o “este ano é como no tempo do Eusébio”, o “a europa do futebol tem os olhos na Luz”, e até o pacóvio deslumbrado J.J. diz que “este ano, se nos deixarem, vamos ser campeões, bi-campeões e até tri-campeões!”.
Na verdade, com o tratamento de privilégio que está a ser dado ao Benfica e com tanto penalty forjado que já se vê e adivinha, admirará pouco que o velho Pantera Negra ainda venha a ser o Bota de Ouro desta época; não surpreenderá, da mesma forma, que a Europa do futebol se fixe na Luz – que a europa do benfica é a do Chipre, Turquia, Croácia e Macedónia e nestes também os momentos de glória são sempre fixados no canal Memória – e, por fim, ninguém pestanejará quando a Liga lhes atribuir um tri-campeonato já nesta época, pois com a falência do país que se anuncia, bem poderá nem haver campeonato nos tempos mais próximos e a coisa fica já resolvida sem mais escândalo!
Tivessem outros clubes beneficiado de metade desta ribalta, e o Braga teria ficado já o ano passado em terceiro, o Sporting ficaria de novo este ano em segundo, e o F.C. Porto seria sempre desde há 35 anos o campeão!

Manipulações

Este dom que algumas pessoas têm em iludir-nos permanentemente com histórias manipuladas, plenas de fé e esperança, devia levá-las ao cinema ou à literatura e não à gestão de um clube ou ao governo da nação!

Abuso de Poder

Como é que é possível haver uma pessoa que, depois de ter sido privativa e publicamente usada e abusada, anos a fio, ainda suporta o autor de tais sevícias?
Só mesmo alguém muito ignorante e sem pingo de coragem o pode permitir e aceitar.
Há-os, nós sabemos, em todos os tempos! De maneira que – sempre achei – quem assim age, merece tudo o que lhe couber!

Encantamentos

Enquanto as pessoas, dia após dia, continuarem a contemplar o Sol como se fosse este a rolar à volta da Terra, continuarão a ser enroladas, diariamente, sem contemplação!